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Curumin lança álbum - Boca

  • Por: Rodolfo Vitório
  • 30 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Luciano Nakata Alburquerque está de volta, talvez por esse nome você não o conheça. Estamos falando de Curumin, o músico paulistano retorna com um disco de inéditas após 5 anos do Arrocha (2012), que figurou a lista de melhores discos do ano em vários sites de música. [if !supportLineBreakNewLine] [endif]

''Boca'' tem início com ''Bora Passear'', uma faixa que Curumin intencionalmente nos convida para adentrar em seu universo fragmentado, com uma batida gostosa e uma mensagem pra estarmos juntos para combater esse momento nebuloso que vivemos, uma noite escura onde o dia demora um pouco mais para nascer e talvez juntos podemos caminhar com mais esperança. Já ''O Burguês que deu Errado'' é um pequeno trecho da poesia de Beto Bellinati. Um trecho poético, reflexivo e visceral. Que dá o tom e nos conduz para a faixa seguinte, ''Boca Pequena Parte 1'' segue a mesma pegada da faixa anterior, com versos (''Estou sendo enfrentado / Por uma corja de bandidos / Diz o descarado no noticiário / Filho da puta dissimulado''), a faixa segue um modelo de desconstrução feita sob medida pra esse tal discurso meritocrático e patriarcal, onde o homem detém, ou quer deter, o poder tanto no poder público quanto no mando do espaço doméstico, onde homens brancos nos fazem acreditam que só estão no comando por seus próprios méritos, assim também tentando se manter no poder à qualquer custo. Já ''Boca Pequena Parte 2'' é uma das faixas que mais se destacam. Ela tem contribuição do cantor Russo Passapusso, parceiro de longa data de Curumin, uma outra faixa que é uma continuação da primeira. A sirene toca nos alertando que com rimas rápidas (''O voto é secreto, o povo é sem teto / O povo é tupi, vai te entupir / Madeira é de lei que não dá cupi, sim / Pra tentar viver, como?/ Escreveu, não leu, como?'') Russo consegue deixar sua mensagem sobre os problemas políticos e sociais que vivemos, onde suas palavras formam um trava-língua ácido, pertinente, mas sem esquecer do swing baiano. Prata, Ferro, Barro nos leva pra outro universo, outra dimensão. Uma brisa, um balanço cheio de acerto e com palavras soltas que se encaixam melodicamente em uma maré cheia de viagem. Já ''Terrível'' segue com os versos (''Terrível / Ela é terrível / Com ela não tem castigo / Não tem culpa / Ela instiga / Abusa da minha loucura''), versos que nos mostram o quanto o universo feminino é cósmico, talvez não só o gênero feminino, mas sim o feminino em geral. ''O Atrito'' corta o disco com uma certa melancolia. Assim como em um filme que em algum momento precisa de um fôlego, um momento mais triste e reflexivo, pra no ato seguinte voltar com sua graça. ''O Atrito'' muito bem pode ser considerada uma introdução necessária pra faixa seguinte, onde o balanço volta em grande estilo em ''Boca de Groselha'', uma faixa que Curumin lançou antes do disco sair, mais uma vez ouvimos palavras aleatoriamente saindo da boca fazendo colagens ao um som eletrônico extremamente malemolente e fácil de se pegar cantando.

reprodução / facebook

Rico Dalasam contribui em ''Tramela'', talvez a faixa mais pesada e caótica do disco. Começa com batidas secas e uma métrica que instiga. A cada faixa executada percebemos letras políticas que saem como uma necessidade e não algo planejado inicialmente. Já ''Cabeça'' é um sussurro cheio de mistério. O som te leva involuntariamente para um ritual, um universo místico cheio de batuques e beats. O mistério continua em ''Descendo'' , mais uma pequena faixa instrumental que desempenha bem o seu propósito. O disco segue descendo até ''Boca Cheia'', é a penúltima faixa do disco e trás a espanhola Indee Styla selando mais uma parceira pontual em uma faixa, dançante, cheia de curvas e provavelmente a mais acessível e pop entre todas. ''Paçoca'' finaliza o disco lindamente com um samba que lembra um pouco Martinho da Vila. Uma faixa que resume muito bem o humor e o astral do brasileiro, que ironicamente é feliz mesmo com todas as adversidades. É no samba, nossa maior manifestação cultural, que esquecemos dos problemas e arranjamos forças para continuar dançando com os problemas do dia-a-dia. O disco tem a arte assinada por Ava Rocha, produção de Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins e patrocínio da Natura Musical. Com ''Boca'', junto dos seus parceiros e colaboradores, Curumin nos mostra com todo o seu arsenal de palavras que seu retorno era mais que necessário, trazendo indiretamente um disco politico, mais aberto para o eletrônico, que mesmo assim mistura vários ritmos e colagens, em certos momentos torto e que vai se costurando e se moldando de acordo com as palavras que saem do mundo interior para o exterior. Transformando uma palavra tão concreta, cheia de mistérios e significados como base pra todo um conceito de disco. Podemos dizer que agora 2017 se inicia com grande estilo, mesmo já estando quase na metade do ano. Assim como no seu disco anterior, Curumin acerta em cheio e provavelmente vai ser figura certa nas listas de melhores discos do ano com seu delicioso ''Boca'', um disco mais que recomendado.

 
 
 

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